A Sociedade Portuguesa de Física (SPF) faz 50 anos e este número especial da Gazeta comemora o meio século de vida da nossa Sociedade.
A cerimónia oficial comemorativa decorreu no dia 19 de abril, tendo contado com um número elevado de participantes, em particular de jovens Físicos, que são o futuro da SPF. Curiosamente, o primeiro número de 2024 da Gazeta também foi comemorativo, sendo dedicado a uma personalidade de enorme relevo: Manuel Valadares. Este segundo número, que volta a ser temático, é todo ele dedicado à celebração das bodas de ouro da SPF.
O presente editorial é assinado, como habitualmente, pelo Diretor da Gazeta, mas também pelo Editor convidado deste número, Manuel Fiolhais.
O irrecusável convite para a honrosa tarefa surgiu da Direção da SPF, na pessoa do Presidente José António Paixão e, desde logo, ficou expressa a plena liberdade editorial na conceção deste número. Assim, os artigos que se apresentam foram todos elaborados na sequência dos convites dirigidos aos autores com o pedido de abordarem diferentes temáticas definidas em plano previamente delineado.
Criada em 1974, quase em simultâneo com a Revolução dos Cravos, comemora a SPF os seus 50 anos de existência, sendo o jubileu um marco importante que devemos, decerto, celebrar. Uma das formas de o fazer é relembrar o caminho percorrido, prestando a devida homenagem aos pioneiros que tiveram a visão, o ensejo e o esforço intrínseco à criação de uma sociedade científica que servisse os Físicos em Portugal e que empenharam os melhores esforços e o seu precioso tempo nesta tarefa.
Este número especial da Gazeta de Física é, assim, um pequeno tributo a esses pioneiros e a todos aqueles que, de uma ou outra forma, contribuíram para a construção da SPF. Agradeço aos editores desta Gazeta de Física, Manuel Fiolhais e Bernardo Almeida, terem aceitado sem reservas o meu pedido para a edição deste número especial e tomado a seu cargo o trabalho inerente da escolha e edição das contribuições que se materializam neste bonito número. Agradeço também, naturalmente, a todos aqueles que contribuíram com os seus artigos.
Esta não é, talvez, a melhor forma de começar o texto de um bosquejo sobre a história das sociedades científicas em Portugal:
«uma investigação desenvolvida em Portugal no início da década [de 2010] encontrou poucos estudos de âmbito geral sobre o panorama das sociedades científicas (…) bibliografia existente sobre o tema era ora de natureza monográfica (estudos sobre uma única associação), ora focada em aspetos específicos da atuação destas instituições (publicação, ética, formação, internacionalização) (…) desde então, pouco mudou (…)»[1]. Nesta citação a autora refere um trabalho de maior fôlego, onde na sua introdução assumia o juízo anterior [2]. Isto é, o associativismo científico é uma matéria que reconhecidamente não tem sido trabalhada, quer em profundidade quer em extensão, o que dificulta o propósito aqui exigido. Embora sem a pretensão de contribuir para o aprofundamento desta temática, pode escrever-se que o aparecimento destas associações obedeceu a duas fases fundamentais condicionadas por factores históricos importantes.
No dia 22 de janeiro de 1971, o Diário de Notícias publicou, na primeira página, a duas colunas, uma “Nota oficiosa do Ministério da Educação Nacional”, intitulada: “Várias Providências Para Pôr Termo À Situação Anormal Das Universidades De Lisboa E Coimbra”. No que diz respeito à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) a anormalidade conta-se em meia dúzia de linhas: os estudantes distribuíam na Rua da Escola Politécnica uma folha informativa, a polícia apareceu, os estudantes refugiaram-se na Faculdade, a polícia perseguiu-os e ocupou as instalações. Como consequência desta ocupação, os assistentes reuniram e decidiram que não dariam aulas com a polícia a ocupar as instalações. Não sei se foi esta a primeira greve de assistentes, mas, para o objeto desta nota, não importa agora averiguá-lo. O que pretendo é dar-vos o ambiente que se respirava na Universidade, nesse início de 1971.
No dia 15 de fevereiro de 1971, realizou-se no anfiteatro de Física da FCUL uma reunião do núcleo de Física de Lisboa da Sociedade Portuguesa de Química e Física (SPQF). Nessa reunião foi aprovado, por unanimidade, constituir uma comissão mandatada para promover um inquérito entre os físicos, sócios ou não da SPQF, para averiguar do interesse em se constituir uma Sociedade Portuguesa de Física. A comissão era constituída por: Eduardo Martinho, Filipe Duarte Santos e Jaime de Oliveira da Junta de Energia Nuclear e Augusto Barroso e João Quininha da FCUL. Este grupo (Figura 1) que se auto intitulou “Comissão Pró-SPF” foi o promotor do nascimento da SPF.
O processo de criação da Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) revela a importância industrial, económica e social da Química na transição para o século XX e no princípio desse século, em vários países. A SPQ foi fundada no Porto em 28 de Dezembro de 1911. O seu primeiro presidente foi o professor António Ferreira da Silva da Universidade do Porto, especializado em química orgânica e analítica. Mais tarde, em 1926, a sociedade passou a integrar a Física e mudou o nome para Sociedade Portuguesa de Química e Física (SPQF). Em abril de 1974, pouco tempo antes da Revolução de Abril, foi registada em Lisboa, num Cartório Notarial da Baixa, a criação da Sociedade Portuguesa de Física (SPF) que teve 222 sócios fundadores. Recordamos como foi a evolução em outros países. Na Grã-Bretanha em 1841, 77 promotores - incluindo médicos, académicos, industriais e empresários - constituíram a Chemical Society of London, tendo sido presidente o químico escocês Thomas Graham, que desenvolveu trabalho pioneiro sobre a difusão dos gases e inventou a diálise. A Physical Society of London é criada em 1874 com 29 membros e mais tarde integrada no Institute of Physics em 1917. Nos EUA a evolução foi mais simples: a American Chemical Society foi fundada em 1876 e a American Physical Society em 1899. Mais próximo de nós, em Espanha, o processo teve analogias com o caso de Portugal. A Real Sociedad Española de Física y Quimica foi fundada em 23 de janeiro de 1903 em Madrid. O seu primeiro presidente foi José Echegaray Eizaguirre, engenheiro de Caminos, Canales Y Puertos. Em 1980 a Sociedade foi dividida nas atuais Real Sociedad Española de Física e Real Sociedad Española de Química.
No caso da nossa SPF os primeiros corpos diretivos foram eleitos em janeiro de 1975, terminando o mandato da Comissão pró-SPF, a cujo empenho e dedicação se deve a criação da sociedade (Figura 1).
Foi com muito prazer que aceitei o convite que me foi dirigido pelo Prof. Manuel Fiolhais, de contribuir com um artigo sobre a SPF no Ano Internacional da Física 2005, para este número especial da Gazeta de Física dedicado aos 50 Anos da SPF.
A Sociedade Portuguesa de Física esteve fortemente envolvida com o Ano Internacional da Física 2005 (AIF2005), tendo-se empenhado afincadamente na programação, coordenação e implementação das atividades com que, durante esse ano, a física foi celebrada no nosso país. E, antes disso, já tinha participado ativamente no processo internacional que culminou na reunião a 10 de junho de 2004 da 58.ª Assembleia Geral da ONU, com a Proclamação de 2005 como Ano Internacional da Física. Quando esse processo internacional se iniciou em dezembro de 2000, já a SPF, tal como outras sociedades de física, estava a estudar o problema que o originou e cuja resolução foi o principal objetivo da referida Proclamação.
*’’(…) source of wide-spread, deep-rooted culture, (…) to serve as a beacon light whenever difficulties beset the path of mutual understanding or human dignity and freedom are threatened’’,
Gilberto Bernardini [1]
Curiosidade pura ou competição?
Costuma dizer-se que a Ciência não tem fronteiras, que é eminentemente internacional.
No entanto, a Ciência é naturalmente competitiva, mesmo quando nasce da inocência da curiosidade pura. A Ciência não é neutra. Em particular a Física, ao resolver os desafios sobre compreensão da existência e evolução do universo, tem profundas implicações praticas, através da tecnologia que gera.
Na história humana, a Ciência e a transferência de conhecimento foram decisivas nas reorganizações geo-estratégicas, a criação ou desmantelamento de impérios. Exemplos são a expansão marítima ou a era dos Descobrimentos, a exploração da Terra e do Espaço, a Revolução Industrial, a Revolução das Comunicações, a Revolução Digital, a da Inteligência Artificial (ainda em curso, numa rota mais rápida que as anteriores e com maior potencial transformativo na essência do ser humano e da atividade humana?). Nas últimas revoluções assiste-se à supremacia do mundo quântico nas tecnologias.
A Gazeta de Física, fundada em 1946 por Armando Gibert, vai no volume 46 (normalmente saem quatro fascículos por volume, sendo este anual, embora dois fascículos surjam, por vezes, agrupados). Todos os volumes podem ser consultados no sítio da revista: http://spf.pt/magazines/gfis. Até Abril de 1974, durante 28 anos, saíram cinco volumes, pelo que, depois dessa data, saíram os restantes 41 volumes. Curiosamente, o último fascículo, o n.º 9 do vol. 5 (os volumes tinham, então, mais fascículos do que actualmente) ostenta a data de Abril de 1974, mas foi preparado antes da Revolução, pois não há qualquer menção à mudança política no país. A revista, subsidiada pelo Instituto de Alta Cultura e pela Junta de Energia Nuclear, era propriedade da Gazeta de Matemática Lda. A sede ainda era no mesmo sítio do número inicial: o Laboratório de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A composição e impressão eram na Tipografia Matemática Lda., em Lisboa. Havia, em vez de um director, uma Comissão de Redacção, onde ainda perduravam dois nomes da comissão de 1946: Rómulo de Carvalho (1906-1996) e Lídia Salgueiro (1917-2009), o primeiro professor do Liceu Pedro Nunes e a segunda professora da Faculdade de Ciências de Lisboa. Os outros redactores no número de 1974 eram José Gomes Ferreira, Fernando Bragança Gil, João Sousa Lopes, Maria Teresa Gonçalves, Frederico Gama Carvalho (filho de Rómulo de Carvalho), Rui Namorado Rosa, José Carvalho Soares, João Bessa e Sousa, e Mário Trigueiros.
Das ações desenvolvidas pela Sociedade Portuguesa de Física (SPF) com implicações nos ensinos básico e secundário em Portugal, optou-se por destacar o contributo dado nas seguintes áreas: documentos curriculares de referência, qualidade científico-pedagógica de manuais escolares, avaliação externa, encontros ibéricos para o ensino da física, formação de professores, desenvolvimento de projetos experimentais para alunos e prémios de incentivo da excelência.
A Divisão de Educação (DE) da SPF foi uma das forças motrizes dos contributos para a melhoria dos documentos curriculares, dos manuais escolares e da avaliação externa e da organização dos encontros ibéricos para o ensino da física. No século XXI, a DE foi coordenada pelos seguintes professores: Vítor Teodoro (2007 a 2010), Carlos Portela (2010 a 2019) e Deolinda Campos, Cristina Pinho e Paulo Carapito (2019 a 2024).
As Olimpíadas Internacionais de Física (IPhO – International Physics Olympiad) decorreram pela primeira vez em 1967, em Varsóvia, na Polónia. Participaram apenas cinco países, todos do que era então designado por “bloco de Leste”: Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia e Roménia. A inspiração para a organização de uma competição de Física foi o crescente sucesso das Olimpíadas Internacionais de Matemática (IMO – International Mathematical Olympiad), organizadas pela primeira vez em 1959, na Roménia. Tal como a IPhO, a IMO teve origem nos países do outro lado da “cortina de ferro”. Nos primeiros anos da sua existência, ambas as competições reuniram exclusivamente participantes de países signatários do Pacto de Varsóvia. A sua abertura a outros países deu-se alguns anos depois: Cuba e França foram os primeiros países não-pertencentes ao “bloco de Leste” a participar na IPhO, em 1972, enquanto na IMO os primeiros países não associados à fundação do evento que nele participaram foram a Mongólia, em 1964, e a Finlândia, em 1965. ...
As Olimpíadas Nacionais de Física fugiram a este padrão. A primeira participação de uma equipa portuguesa na IPhO data de 1994, mas a primeira edição das Olimpíadas de Física ocorreu bastante antes, em 1985. A iniciativa foi anunciada na “Gazeta de Física” de janeiro de 1985 (vol. 8, fasc. 1, pág. 38): “Por iniciativa da Delegação Regional de Lisboa, posteriormente convertida em realização de âmbito nacional da SPF, vão ter lugar as primeiras Olimpíadas de Física, com o objectivo de incentivar e desenvolver o gosto pela Física dos alunos do Ensino Secundário.
Como consequência dessa realização antevê-se frutuosos contactos entre os professores de Física das várias escolas secundárias.”
Imaginemos que corre o ano de 2074. A Gazeta de Física, cujo primeiro fascículo remonta ao longínquo ano de 1946, cumpre o seu 128.º ano aniversário. Tanto terá mudado o mundo nestes 128 anos!
Em 1946, o mundo emergia da Segunda Guerra Mundial e testemunhava avanços significativos, como o desenvolvimento da bomba atómica e os primeiros computadores. Por contraste, em 2074, a tecnologia terá avançado exponencialmente, com a proliferação de inteligência artificial, nanotecnologia, viagens espaciais comerciais e talvez até mesmo a colonização de outros planetas.
Em 1946, as formas predominantes de comunicação eram cartas, rádio e jornais impressos. Em 2074, a comunicação será praticamente instantânea e omnipresente, com a internet, dispositivos moveis e realidade virtual integrados na vida quotidiana, conectando pessoas em todo o mundo de maneiras que seriam inimagináveis no pós-guerra (e até mesmo em 2024!).
O Professor João Bessa Sousa tem-se distinguido como mestre inspirador pela sua dedicação e criatividade como investigador, pelo volume e qualidade do trabalho científico, e pela sua obra de criação dos meios e estruturas de investigação. Como cidadão interventivo na causa da Ciência e da Física, tem contribuído decisivamente para o desenvolvimento e prestígio destas áreas em Portugal.
Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica, em 1963, e, após dois anos de docência na Universidade do Porto, iniciou trabalhos de investigação na Universidade de Oxford, em Inglaterra, onde concluiu o doutoramento em Física, 1968. Em 1970, concluiu um novo Doutoramento, este, na Universidade do Porto.
Criou o primeiro grupo de investigação em Física das Baixas Temperaturas em Portugal, sendo cofundador do Centro de Materiais da Universidade do Porto (CEMUP) e do Instituto de Física de Materiais da Universidade do Porto (IFIMUP).
É membro fundador da Sociedade Portuguesa de Física, foi seu presidente, e foi diretor da revista Gazeta de Física e consultor de diversas revistas internacionais. Dinamizou inúmeras ações de promoção e divulgação da ciência.
Já observaste com atenção um poste de eletricidade de alta tensão? ou a Torre Eiffel em Paris? ou a estrutura da ponte Dom Luís no Porto? ou a estrutura que cobre a estação do Oriente em Lisboa? Ou a estrutura que suporta o telhado do pavilhão de ginástica da tua escola? O que têm em comum?
São constituídas por estruturas triangulares formadas por elementos retos cujas extremidades estão ligadas. A uma destas estruturas chamamos treliça. As construções referidas são formadas pela associação de várias destas estruturas que têm a particularidade de lhes dar uma grande estabilidade sem utilizar muito material.
Nesta atividade vamos trabalhar diversos conceitos, nomeadamente estabilidade de estruturas e revestimentos de construções/ edifícios. A estabilidade e o isolamento de estruturas envolvem o conhecimento de física.
Inserido na 26.ª semana cultural da UC - www.uc.pt/semanacultural, o Departamento de Física da Universidade de Coimbra (UC) e o Rómulo - Centro de Ciência da Universidade de Coimbra organizaram uma exposição com instrumentos do século XIX, utilizados para o ensino da acústica e um ciclo de palestras tendo o tema Som como linha condutora.
Decorreu no passado dia 19 de abril a comemoração do Jubileu da Sociedade Portuguesa de Física, no Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). O evento iniciou-se com a cerimónia de boas vindas, com o Presidente da FCUL, o Presidente do Departamento de Física da FCUL e do Presidente da Sociedade Portuguesa de Física.
Seguiu-se o lançamento do Postal e selo dos CTT evocativo do Jubileu da SPF, numa cerimónia onde intervieram José António Paixão, Presidente da SPF e Raul Moreira, Presidente Executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações e Diretor de Filatelia dos CTT.