Veiga Simão: ´`Uma pessoa mais culta é uma pessoa mais livre``

Se esta era a estratégia definida já em 1910 pelo filósofo e matemático Whitehead: Uma Nação que não cultiva a inteligência está perdida...
esta foi também a estratégia que Veiga Simão adoptou para si próprio, e na sua vida de acção pública.  (Ver entrevista na Gazeta de Física em http://gazetadefisica.spf.pt/magazine/107(parte I)  e http://gazetadefisica.spf.pt/magazine/article/857/pdf

(parte II). 

Em entrevista à Gazeta de Física em 2011 Veiga Simão deixou-nos o balanço sucinto  da sua própria vida: 
 
"Fazendo um balanço posso dizer que a minha juventude permitiu-me correr todos os perigos necessários, na defesa intransigente das minhas ideias e dos meus colaboradores, em prol de uma autêntica Universidade. E assim vivi uma experiência que qualifiquei como digna de ser vivida em oceanos de angústia e de esperança.
No caminho que  percorreu não jogou apenas o acaso, mas a força a determinação da vontade,
"de uma ambição legítima de saber e de fazer", de uma curiosidade imensa sobre"os problemas da origem do universo, da estrutura da matéria, da entropia e morte do universo, para além da origem da vida" que "figuraram entre as minhas preocupações em estudos, em tertúlias académicas e em conversas com mestres do pensamento mais velhos que eu, junto ao Parque à beira do Rio Mondego. Recordo a tertúlia do Arcádia com Guilherme de Oliveira, Miguel Torga, Afonso Queiró, Anselmo de Castro, Dias de Oliveira, a qual me abriu novos horizontes. A curiosidade interdisciplinar passou a comandar as minhas preocupações científicas e sociais."
 
Na forma como viveu vida, a formação de Veiga Simão  como físico teve um papel fundamental:
"A cultura da Física que me foi transmitida quer pela Escola de Ciência de Cambridge (Cavendish Laboratory) quer pela Escola de Ciência de Coimbra (Laboratórios de Física e Química), me ensinou quão útil era aprender com o passado e saber correr riscos na construção do futuro, para o que era essencial formar equipas com a ambição. O lema era fazer melhor aproveitando o que de bom tenha sidofeito e que os passos seguros deviam ser dados recolhendo lições da experiência."
E deixou nessa entrevista à Gazeta de Física  recados: "Este posicionamento é hoje contrariado pela emergência de uma “partidocracia” que privilegia “motivações individualistas”. Daí que todos queiram começar a construir “mundos novos”, donde tem resultado a destruição progressiva de tudo o que possa representaro “Estado inteligente” ". Ou  ainda:
"No caso português era e é notória a falta de for-mação científica da maioria dos políticos portugueses, mesmo em assuntos de cultura geral de base, como por exemplo os relacionados com a origem da vida, a estrutura da matéria, a origem do Universo, a entropia e a morte do Universo, as leis da Natureza e a sua capacidade de regeneração,a lógica de três valores, a energia e os limites do desenvolvimento, as fragilidades e as potencialidades da Economia como Ciência, o significado do princípio da incerteza de Heisenberg, a cultura da qualidade e a sua mensurabilidade. Para muitos a cultura literária historiográfica e jurídica são mais do que suficientes. A verdade é que o segredo está no equilíbrio criativo entre a cultura científica e a cultura humanística. Infelizmente, o desequilíbrio entre estes tipos de formação agravou-se nos últimos trinta anos."
Perder no espaço curto de uma  semana dois homens de acção e de pensamento, Vasco Graça Moura e Veiga Simão,é talvez demasiado fado. Mas interiorizar melhoros seus exemplos e coragem pode fortalecer-nos e iluminar opções. Ambos trouxeram dimensões novas a Portugal. O rios Douro e Mondego, transbordaram  bem dos seus leitos, através destes seus dois homens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Publicado/editado: 04/05/2014

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