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Volume 11 / Fascículo 4
Novembro 1988
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Quem nunca se interrogou por que razão o mar é azulado, ou por que é que há correntes no oceano, ou por que é que as regiões do litoral têm menores amplitudes térmicas que as regiões do interior, ou, ainda, por que é que no Verão as praias da costa ocidental portuguesa têm águas tão frias e as do Algarve são relativamente quentes? Todavia, estas observações tão simples de fenómenos oceanográficos e que resultam de um contacto que temos com um meio natural pelo qual sempre sentimos uma certa atraeção, não são na sua maioria explicadas, nem a nível do ensino secundário nem a nível do ensino superior... O ensino da Física seria certamente beneficiado se os princípios fundamentais do Mecânica, da Acústica, da Termodinâmica ou do Electromagnetismo fossem também ilustrados com exemplos colhidos das observações desses fenómenos naturais que fazem parte da nossa vivência e que, como tal, serão objecto de um potencial interesse nosso. Neste seminário procurou dar-se uma panorâmica geral do que é a Oceanografia e quais as questões fundamentais que esta procura resolver. Simultaneamente, pretendeu-se chamar a atenção para o facto da Física dos oceanos poder ser apresentada, no seu essencial, de um modo simples e fazendo uso de conceitos básicos e, como tal, poder vir a ser explorada no ensino secundário como um forte estímulo para o interesse dos alunos de Física.


Durante o tempo em que decorrem as nossas vidas, neste final do século, a ciência está transpondo um dos seus principais paradigmas, que consiste em buscar o regular, o simples, o periódico, ... Hoje procura-se o irregular, o complexo, o aperiódico, ... Os sistemas e as suas dinâmicas apresentam comportamentos que na maioria das situações reais, são bastante complicadas, caóticas, estranhas, fractais. Daí o objectivo da nossa oficina-laboratório ser o estudo dos sistemas dinâmicos caóticos com as suas soluções tipo atractores estranhos, caracterizados por apresentarem uma geometria fractal. 


O Encontro Regional de Lisboa sobre o Ensino da Física revelou um número de pessoas dedicadas que estão activamente empenhadas numa actividade profissional. Este profissionalismo e energia são razões para esperar que a proposta reorganização do ensino secundário conduza a uma melhoria importante da educação em Portugal. É muito importante discutir assuntos profissionais fundamentais neste tipo de fórum aberto, e o diálogo na «Mesa Redonda» da última sessão voltou a revelar um alto nível de preocupação e empenhamento por parte dos participantes.


Se considerarmos a evolução da Física no nosso século poderemos talvez, como faz H. Pagels, identificar cinco níveis evolutivos distintos do conhecimento: moléculas, átomos, núcleos, nucleões e «quarks». Muitas moléculas (a porção mais pequena destacável de uma substância) podem ser observadas ao microscópio óptico. Mas ao passar ao nível seguinte — o átomo — tal possibilidade desaparece por mais poderoso que seja o microscópio, porque só podemos «ver» um objecto se as suas dimensões forem maiores que um comprimento de onda da radiação usada.


O avanço da tecnologia dos computadores, nomeadamente a introdução no início da década de 80 dos chamados computadores pessoais, permitiu generalizar em física (por assim dizer, democratizar) a prática de simulações computacionais. Hoje é possível, tanto a físicos profissionais como a estudantes, programar um algoritmo de interesse físico num computador pessoal e extrair dos resultados conclusões sobre o comportamento do sistema natural que foi modelado. A agregação limitada por difusão (conhecida pela abreviatura DLA, do inglês «Diffusion Limited Aggregation») constitui um exemplo simples de uma simulação computacional de um fenómeno físico, a qual não obstante simplicidade, só foi introduzida em 1981 por Witten e Sander.


Como é do conhecimento geral, o Grupo de Trabalho, coordenado pelo Prof. Fraústo da Silva, a quem a Comissão de Reforma do Sistema Educativo (CRSE) incumbiu a realização de um estudo sobre os planos curriculares dos Ensinos Básico e Secundário, apresentou em finais do ano de 1987 uma proposta preliminar de Reorganização dos Planos Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário que foi objecto de discussão em toda a comunidade educativa. Já no final do ano lectivo de 1987/88, o mesmo grupo apresentou a sua proposta final à CRSE, que apenas foi tida parcialmente em conta na Proposta Global de Reforma apresentada pela CRSE ao ministro da Educação e editada pelo GEP em Julho de 1988.


Na Conferência Nacional de Física, realizada em Setembro último em Aveiro, o Prof. Andrade e Silva na sua lição sobre «A ciência como cultura» propôs a criação, no ensino secundário, de uma disciplina. obrigatória sobre cultura científica. Acrescentou que alguns domínios da física moderna (teoria da relatividade e mecânica quântica) podiam ser. tratados a nível elementar. Deu e muito justamente o exemplo da relatividade restrita, cujas ideias básicas podem ser apresentadas a toda a gente (gente nova, entenda-se), podendo até ser concretizadas com um pouco de álgebra da mais simples. Seria esta uma das maneiras de remediar o divórcio entre ciência e cultura que se manifesta a vários níveis e cuja origem está certamente na escola.


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